Fui semente...
De um espermatozóide
e de um óvulo
Fui um grão de areia
buscando,
no ventre, de minha, mãe, a força
a própria, energia, da sobrevivência
Fui bebé
a quem, puxavam, as bochechas
Ai que linda, tão gordinha
Fui criança
com bolas coloridas, nas mãos
e sonhos de príncipes, encantados
Fui menina,
de longas tranças pretas
e na escola aprendi
os números e todas as letras
Fui adolescente,
sonhei, namorei, casei
Construi um castelo
Ai como era crente
Fui mulher
e mãe...
Tive dois botões de rosa
Alento do meu viver
Mas, por ser uma, mãe, galinha
tive muito de sofrer
O castelo, desmoronou-se
e o encantamento, afundou-se
Oh como odeio...
Mas, eu sou incapaz de odiar...
Gente falsa, mesquinha
intrigas, mentiras
Traições, deslealdades
Não!
Não sou um ser perfeito
E, por todos, tenho respeito,
Sou a imperfeição de...
Um cristal, por lapidar
Fui trintona...
Quarentona...
Sonhadora...
De um sorriso rasgado
A uma triste melancolia
Um amargurado passado
rodeado de nostalgia
Anjo...Doce e terno
Demónio...Depravado
Tempos de inferno
Coração, fechado
Um soneto fiz da vida
e ela em troca, me, deu
Retalhos, de alma, sofrida
de quem, muito, já, padeceu
Fui de encontro a temporais
vendavais de um coração
sofri tanto e tanto mais
Que aprendi a lição
Fui estrela, de um firmamento
Fogo na desilusão
Fui palhaço, neste palco
Fui somente, solidão
Fui grito
Sou lágrima
Silêncio
Voz que acalma
Fui Santa
Sou louca
Fui um sonho, sonhado
Sou um sonho, inacabado
Não sou teatro
E quando a pena, desliza...
não menosprezo, o meu ser
Sou eu, mesma
Num acto sublime, de amor
O que a vida fez de mim?
Nem eu mesma, sei
Só sei que nela caminho
e a todos muito amei
Amei com devoção!
A todo o amigo,
estendo-lhe, a mão
e,
mesmo, ao inimigo
rezo-lhe uma, oração
Pelos caminhos
fui poeta
fadista
pianista
e o mais que acabe
em "ista"
Não...Nada de malícias
Eu, também, fui, arquivista
O que a vida fez de mim!?
Hoje...Cinquentona...
O que eu, fiz, da vida!?
AUTORA: LOURDES S.
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