27 de set. de 2010

" MISTÉRIO "






EU...

Desculpa se me prostro a teus pés
Enquanto me ignoras sentado no sofá
Deixa-me encostar meu rosto, aos teus joelhos
E, chorar baixinho
Não!
Não precisas dizer nada
Nem sequer te dês ao trabalho, de secar minhas lágrimas
Beija-as simplesmente em silêncio
E escuta meu pranto
Neste mistério
Que nem eu entendo
Mas que quero desvendar
Procuro por ti dentro de mim
E em mim
Procuro por mim
Passei a ser uma folha seca de Outono que todos calcam
Só para ouvir o seu barulho, nas solas dos sapatos
Será que és uma sobra ou uma sombra de mim?
Sinto-te a vaguear na ilusão
Acho que estou no fundo do posso
Mas tu puxas-me para cima
Seguras na minha mão, trazendo-me a emergir
Neste teu peito coberto com as minhas poesias
Poesias de pétalas perfumadas num circo chamado vida
Onde somos os seus actores principais
Deixa-me encostar a minha cabeça no teu ombro
E contar logo minhas mágoas todas para ti
O teu ombro é mais que um muro é uma alcofa paterna
Andaste a navegar por mares agitados
E nesta diversificação, queres somente o teu espaço
Mas eu, porque te quero, invado-o
Já aprendi com erros futuros
É difícil voltar a mergulhar na pocilga
Serei eu, sem por vezes, me encontrar
Encontro-me num espaço chamado memórias
Memórias de uma época, em que por momentos, pensei ser feliz
Mas nunca o fui... Só isso
Somos vagabundos do amor
Desconectados com o mundo que nos rodeia
Queres um abraço?
Os abraços por vezes oprimem-me
Sufocam-me
Torturam-me
Sinto o cheiro a falsidade a cada esquina
Tanta mágoa
Só dor...
Apetece-me chorar.
Sou uma amálgama de sentimentos
E se juntares a tua tristeza à minha
Faremos um livro perfeito
Uma sonata tocada em dó menor
Com um prefácio escrito a lágrimas
Escalpelizadas pelo desprezo humano
Somos uma réstia de algo
Que a natureza nos implantou
E que outros nos querem roubar
Uma verdade aqui outra acolá é assim construída a nossa vida
Em cima de uns alicerces de saibro onde não abunda o cimento
Somos uns castelos de areia
Que com uma rajada de vento tudo se transforma
Na maior das masmorras, aniquilando-nos o coração
Teremos de ser nós mesmos a libertar-nos, dessa corrente hercúleas
Com a subtileza dos nossos pensamentos e atitudes
Dignas de um ser de honra e dignidade
Altos valores que a sociedade actualmente ignora
Vilipendiando tudo e todos
Vês porque te adoro?
Exactamente por tudo isto
Por seres como és
Por sentires, como sentes
Somos feitos não do mesmo sangue, mas da mesma matéria
Matéria una e indivisível
Uma matéria que acredita no próximo e não trai os princípios mais básicos
De uma relação profícua de amizade
Encosta-te ao sofá
Estica os braços, agarra-me
Abraça-me
Vês?Já sorrimos
Mas tu abraças-me na essência, que constrói as minhas moléculas, iónicas e esotéricas
Vais ver que quando menos esperares o sol vai raiar para mim
E nesse dia não me vou esquecer de te dar um feixe luminoso
Mas, sabes?
Existe mais neste meu grito, muito mais!
O Outono é o meu estado de alma
Eu absorvo as palavras, como que uma esponja sequiosa de amor
Um dia quem sabe ainda
Iremos ter o nosso quinhão de felicidade

AUTORA: LOURDES S.

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