3 de out. de 2010

" NAQUELA TARDE...MORRI "

Naquela tarde em que o sol raiava, senti-me morrer, quando vi minha filha não aparecer.
Nessa época, era uma menina intitulada, pelo mundo cruel, como deficiente.
Mas ela, simplesmente era diferente
Menina com um atrazo intelectual e ósseo.
Também com uma dispneia mental, nada de mal
Precisava de ajuda, muita ajuda!
Não conseguia sozinha aprender, e, para isso, existe o ensino especial
Aprendia sim, mas com o tempo, com a repetição das coisas. Só que também as esquecia rápidamente.
Ela era normal como tantos outros que se intitulam normais e não passam de anormais no seu conceito de deficiência.
Contudo não estou a julgar o que os outros pensam, mas sim o que eu senti naquela tarde de agonia.
Aquela menina não aparecia.
Como louca corri para a escola, onde me disseram que ela já tinha saído há muito tempo.
Galguei os caminhos que ela costumava percorrer no regresso a casa, e, nada da minha filha.
Pensamentos terríveis assolaram o meu espirito, e a minha mente e o meu coração gritou.
Era um alvorosso por todos os lados.
Todas as pessoas que puderam procuravam-na mas sem resultado.
Como é óbvio chamei a polícia. Um vizinho que era bombeiro, também moveu alguns colegas.
Naquela tarde, morri, mas também naquela tarde, renasci, para um novo conceito de vida.
Já não sabia a quem recorrer, só sentia uma dor enorme invadir todo o meu ser.
Chamava...Gritava o seu nome numa angustia de loucura em devaneio.
Ainda hoje, quando relembro aquela tarde, o meu coração fica pequenininho, sufocado e a bater mais forte. Já tudo passou bem sei, mas um pedacinho de mim, morreu naquela tarde.
De repente, no meio daquele tumulto, surge uma criança pela rua abaixo. De pasta às costas.
Tão pequenina e gorduchinha.Sorridente. Tão inocente, pergunta em voz aflita, quando vê a polícia à minha beira.
Oh mãe que foi vais presa? Oh mãe oh mãe!
Oh minha filha, gritei eu, já abraçada a ela, onde andas-te? Que aconteceu?
Sabes mãe, hoje vim por outro lado, mas perdi-me
Porque mudaste de caminho? As lágrimas rolavam copiosamente, numa mistura de dor e alegria.
Tinha o meu tesouro nos braços Graças à Virgem Maria. Àquela que tanto invoquei nesta hora de agonia.
Dizia-me aquela menina de ouro, sorridente, ausente da dor, sem perceber na realidade o que se tinha passado. Sabes? Aqueles homens que estão nas obras, metem-se comigo. Dizem que eu tenho umas mamas boas, e, eu tive medo, e hoje vim por outro lado.
A inocência dos inocentes!!!
Nesse mesmo dia, aluguei um apartamento junto da escola onde minha filha andava.
Acabei por superproteger aquela menina indefesa que só conseguia aprender por repetição, mas eu, como anjo de uma só asa, dei-lhe todo o amor existente dentro de mim
Quantas vezes, nem sequer sabia onde ir buscar as forças, mas elas surgiam e renovam-se a cada dia.
Foi difícil, muito dificil mesmo, consolidar o desespero com o amor.
No entanto, o amor venceu!
Mas, naquela tarde, como em tanto momentos na vida...
Eu morri por dentro
Todavia a esperança continuava a reinar no meu coração, aliás, como ainda hoje, e ao olhar esta menina
de tão pura e singela inocência, agora mulher, sorrio, pela vitória conseguida.
Apesar das rugas que marcam meu rosto...
TUDO VALEU A PENA!
É ASSIM O AMOR DE MÃE!


AUTORA: LOURDES S.

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